MOTRIZ: cinema insubmisso e diverso
A criatividade pode ser uma chama ardente que refaz o mundo em novas cores e luzes, da mesma forma, pode ser uma força vital que se acende naquelas pessoas cuja chama é alimentada. O Festival é um farol que ilumina as criações contemporâneas do cinema brasileiro de curta-metragem, desbravando caminhos para democratizar o acesso à sétima arte e entrelaçar os destinos das periferias do Distrito Federal com a rica tapeçaria do cinema nacional. Assim é o MOTRIZ – Festival de Cinema de Planaltina, em sua 3ª edição, que acontecerá entre os dias 23 e 26 de outubro de 2024, no Complexo Cultural de Planaltina.
MOTRIZ é um palco vibrante onde sonhos e realidades se encontram, onde a arte e a vida dançam em uma sinfonia de perspectivas diversas. Inspirados pelo conceito de “Escrevivências” de Conceição Evaristo, valorizamos filmes que são vozes potentes contra as opressões de gênero, raça, sexualidade e classe. Narrativas que desafiem a injustiça e semeiem a transformação social. É uma celebração da resistência, um movimento contínuo de afeto e transformação, um espaço onde as histórias marginalizadas encontram seu eco e ressoam, alterando a lógica de poder.
No MOTRIZ, cada filme é uma estrela que brilha com a luz de saberes e memórias contra colonias, destacando produções que exploram caminhos e métodos que promovem a democratização do cinema. O FESTIVAL tem se constituído como um farol que ilumina produções das cinco regiões do Brasil, tecendo uma rede de conexões regionais que permite que vozes ditas marginalizadas se expressem e afirmam seu lugar no cenário contra-hegemônico, deslocando-se do periférico para o central em uma jornada muito além da geografia física.
A periferia, neste festival, é o epicentro do debate e da criação, onde a ordem de importância e referência é redefinida. É um convite para que todes, tanto para quem assiste quanto para quem produz, vejam a periferia como o coração pulsante da discussão cultural. Ao promover um cinema insubmisso e diverso, o MOTRIZ fortalece a alteridade e os processos democráticos, desafiando e ampliando os debates sobre as questões urgentes da nossa sociedade, incentivando abordagens interdisciplinares que emergem de dinâmicas heterogêneas e vibrantes.
Combatemos o ódio e os privilégios com a mesma intensidade com que promovemos a arte. O MOTRIZ é uma afirmação da centralidade da vida, um espaço onde os territórios e as territorialidades que habitamos influenciam nossas subjetividades e estas, por sua vez, transformam o cinema brasileiro. Esse é o cinema das periferias, autocentrado e em constante organização para ocupar, resistir e transformar.
Nosso festival celebra as raízes culturais e históricas, as memórias, as encruzilhadas e as identidades que formam o mosaico do Brasil. Valorizamos e buscamos fortalecer as tessituras e a riqueza contida nas produções de todas as regiões do país.
Assim, por meio de um cinema combativo e crítico ao modelo vigente de sociedade, convidamos todes a celebrar possibilidades de subversão e escrevivências das realidades no Motriz. Que cada filme seja um ato de resistência, cada história uma faísca de transformação e cada pessoa cúmplice na construção de um futuro mais justo e igualitário. No MOTRIZ, o cinema é um portal para novas realidades, um espaço onde a periferia é o centro e a criatividade, é a força que move o mundo.
Curadoria Motriz, 2024
Danúbia Mendes, Edileuza Penha de Souza, Larô Gonzaga, Lu Ferreira.
Mostra América Latina
Temas relacionados a afrodescendentes, povos indígenas, adolescentes, meio ambiente, política social e direitos humanos, você vai encontrar na Mostra Latino-Americana quatro curtas-metragens, ficção ou documentário, de países como Chile, Venezuela, Peru e Colômbia.
Todos os filmes considerados e selecionados pela proposta de narrativa e roteiro, e por destacarem a importância de compreensão das diferentes realidades de vida que afetam os povos irmãos da América Latina, a partir da poluição e escassez de água, relacionadas aos Direitos Humanos.
Quatro títulos, (três deles dirigidos por mulheres), que ampliam oportunidades para promoção de diferentes histórias, de qualidades maravilhosas, e eu convido você a prestigiá-las pessoalmente, nesta terceira edição do Motriz – Festival de Cinema de Planaltina.
Estrellas del Desierto, curta-metragem chileno onde amigos que jogam futebol todos os dias, enfrentam suas próprias dificuldades entre os jogos.
La Diosa Quebrada, história em primeira pessoa que conta sobre a migração na Venezuela, fratura social e política do país.
La Voz del Huito, documentário com imagens de arquivo e falado na língua do povo Harakbut, onde o personagem Luis Tayori reflete a infância na selva amazônica e como as missões religiosas afetaram a identidade cultural do próprio povo.
E finalmente La Isla, documentário com imagens de arquivo e um bela mistura de trilha sonora, que nos leva através de ritmos afrodescendentes, salsa e conga.
Mostra África
Relacionar-se é de dentro para fora
Uma das únicas coisas que podem ser consideradas universais na existência humana é a experiência intra uterina, nossa primeira prática de relação. O passar do tempo nos provoca a necessidade do desenvolvimento de ferramentas que auxiliem nesse constante exercício de viver em comunidade, seja esta nosso bairro, região administrativa, país, planeta.
Os curtas desta sessão elaboram sobre esse relacionar-se em momentos tão diversos quanto gravidez e migração, passa pelos questionamentos da adolescência, amizade e descobertas sexuais, até embates com o status quo e transição, tendo em comum a reivindicação das personagens por legitimidade de suas identidades.
Não me parece acidental que sejam obras dirigidas por mulheres; na maior parte das culturas, é delegado ao feminino pensar e cuidar dos vínculos. Tampouco me coincidência que a busca por filmes Africanos, continente que a tudo deu origem, resultasse no encontro com cosmovisões que afastam do estereótipo construído por lentes hegemônicas, além de mostrar que há convergências nas inquietações em quaisquer lugares do mundo.